Momentos em que os filhos não mandam (Uma Fábula)

Chega a ser improvável esta frase título de meu conto, pois na vida de um casal humano, os filhos sempre mandam mesmo ainda na barriga de suas mães, e olha que sou gato e nunca conheci minha mãe, mas entendo o que ela deve ter passado comigo nos meus primeiros miados.
E uma mãe de gato, tem vários pais para seus filhotes, diferentemente dos humanos. Que só geram um filho por vez. Naturalmente seria assim. Mas me contaram certa vez num muro de minhas noites que uma mulher humana teve três filhos de uma só vez, talvez fosse ela uma felina disfarçada e não sabia.
Mas vamos a nossa história. A história que para você humano poderia até ser a sua.
Havia numa terra distante daqui um casal, um rei e uma rainha para ser mais exato, que decidiram coisas diferentes do que pessoas de sangue nobre, e no poder, normalmente nunca cogitam. O fim da monarquia em seu país. Esta decisão foi acertada ao fogo de sua paixão de adolescentes, mesmo sendo eles na época adultos e conscientes do que faziam:
- não quero mais a monarquia - dizia ela - pois o reinado de meu pai e minha mãe fora injusto com seu povo.
- pois é, nunca havia pensado nisso, até que em meu país a justiça imperava, mas haviam torturas, repressão e determinações ditatoriais de meus pais, que eu nunca concordei – replicou ele se dando conta de uma realidade de sua vida, mas que nunca o impediu de se sentir príncipe.
Mas o acaso veio, e seus sangues nobres em comum os levou a casar, para que pudessem dar continuidade ao novo reino já estabelecido por Deus e pelas monarquias ancestrais de sua árvore genealógica.
E durante a convivência deste casamento nobre, esta idéia pairou no ar e na cabeça daqueles ex-príncipes e agora monarcas absolutos de seus reinos.
Agora vamos falar de uma coisa, caro leitor, casamentos de príncipes e princesas são convenientes, silentes e nunca feitos por amor e sim jogadas políticas.
E eles sabiam disso, mas fizeram com que a convivência os aproximasse, tentaram a paixão, que deu certo. E a certa altura o amor, de tantas tentativas, nasceu. Mas era um amor de tentativas, sem olho no olho.
E suas idéias democráticas, nunca amadureceram, mas eram sempre lembradas no momento em que os dois inadvertidamente iam pra cama, faziam amor e pensavam no futuro, junto a fumaça de seus cigarros de fumo nobre e selvagem cultivados na África.
- como faríamos para esta monarquia aqui ser diferente? – perguntava ele, sabendo a solução.
- não teremos herdeiros. – replicava ela, sem a menor dúvida de que esta seria a única solução, para que seu povo pudesse escolher seu futuro pelas próprias mãos e suas idéias democráticas pudessem contrariar o destino nobre a que foram submetidos.
O tempo foi passando, e o que era uma idéia, se tornou uma convicção mútua.
Seus conselheiros, quando avisados por pessoas próximas ao rei e por donzelas de companhia da rainha, achavam a idéia um absurdo. Mas nada podiam fazem contra a vontade, a decisão de seus monarcas.
Mas numa bela tarde, a rainha começou a ter dores, médicos foram chamados, curas milagrosas não resolviam. Curandeiros de outras etnias aconselhavam, faziam sortilégios e nada resolvia. Até que uma conselheira idosa do casal. Uma anciã do reino sentenciou: “ a rainha está grávida!”
Eles não acreditaram no que a anciã disse e imediatamente mandaram enforcá-la em praça pública. Imitando neste gesto o poder de seus antigos reis, seus pais.
O tempo foi passando, o corpo da anciã já não era mais exibido ao povo pendurado em sua forca, mas a sentença da mesma se confirmou.
Entraram os dois monarcas em desespero, sua revolução democrática estava perdida, ela não queria aquele filho e ele começou depois de contrariadas todas as suas convicções pessoais a gostar da idéia.
E num casal nobre, em que tudo, apesar das conveniências dava certo, começaram os desentendimentos.
A gravidez, irritava e aturdia a rainha a certo modo, que apesar de sua resignação ao fato, e de sua busca de entendimento com o Divino, ela se sentia confusa com tudo aquilo.
O rei, em sua posição, não cético, mas esperançoso, sonhava com uma princesa bela, uma linda donzela que pudesse levar seus ideais para frente, sendo ela mulher e ele o rei a quem a introduziria em seus ideais democráticos no futuro.
E aí veio o grande afastamento entre os monarcas, ela por sua vez, sentindo todo o peso físico de sua gravidez e o fardo de ser o que nunca quis futuramente, esqueceu-se do rei em seu coração. E do povo em sua aflição.
Ele, ao ver sua linda rainha fisicamente mudar, suas idéias entraram em parafuso. Mas não fora só isso que o rei sentira e sim a presença de um futuro melhor, diferente do que eles juntos haviam planejado como o melhor antes da gravidez real.
O povo rejubilava com as notícias de que tudo corria bem no ventre da rainha, mas não entendia porque o rei se tornara um político tão sórdido quanto a seu pai, o antecessor.
Ele concentrava suas forças no preparo de um reinado futuro de uma princesa democrata com mãos de ferro e subjugo das vontades e necessidades de seu povo. Mesmo ele sem saber se seria seu herdeiro homem ou mulher, pois em seus sonhos e suas idéias a democracia só se tornaria real se nascesse daquele ventre nobre uma princesa, e ele pai, não daria dote algum a príncipe nenhum por política, conveniência ou resoluções absolutistas.
Mas ele se tornou com aquela mudança um absolutista, e a rainha se afastava dele na medida em que seu ventre crescia e ele governava, perdido com sua vida pessoal, com injustiças e mãos de ferro.
O abismo entre os dois estava ficando tão grande, que perto ao nascer o fruto do amor deles, eles não se falavam, não se entendiam e muito menos se davam apoio para enfrentar a mudança em que o reino estava se submetendo.
O povo esperava a notícia do nascimento com festa. Pois o mesmo povo não residia no castelo e nem dormia na cama real.
E como o rei sonhara, nasceu uma menina linda, de olhar atento, uma fome do mundo e de leite maiores que suas dores, que fora pelo rei, sem dada escolha a rainha batizada de Maria.
E no desentendimento dos monarcas, nas festas em que o povo fazia sem se dar conta de sua fome e necessidade, veio uma notícia inédita nos castelos medievais do mundo todo. O rei e a rainha se separaram de fato.
A rainha ficou com o povo, o castelo, com a solidão e perdida. Onde por aí maus conselheiros começaram a roubar o poder de suas mãos.
O rei fugiu para a floresta negra de seu reino, se escondeu de sua realidade e seu sonho democrático para poder pensar e agir.
Em suas tentativas de ver sua princesa Maria, poucas vezes obtivera sucesso, pois abdicara de seu trono em busca de um ideal democrático e de um sonho em que só a presença viva de Maria em seu coração e sua vida seria possível. Mesmo ele escondido na floresta.
Seus correligionários e pessoas próximas que abraçavam sua idéia de justiça estavam sempre a seu lado. Seu pai veio de longe apóia-lo em sua decisão de dar poder ao povo. Sua mãe, rainha distante se comprometera a negociar junto ao novo monarca, pai da antiga rainha e avô de Maria as idéias democráticas do filho.
Nunca em momento algum chegaram a um acordo, e o povo pereceu a tudo. Passava cada dia mais fome, mais desesperança, cabeças rolaram em guilhotinas, enforcamentos se tornaram a principal forma de diversão ao pobres e a injustiça imperou no reino.
E a única coisa que pairava sobre toda essa temeridade fora o sorriso sempre angelical e feliz da princesa Maria que resistia a essa batalha política com flores, amor e uma alegria de viver fora do comum.
E foi quando Maria, na flor de sua juventude, abraçou os ideais do pai, e se lançou a floresta que já não negra, estava toda florida e cheia de vida, bondade e fadas de bom coração.
Sua mãe desesperou e declarou guerra aos habitantes da floresta. Foram anos de sangrentas batalhas e mortes inocentes em que a única coisa que fazia com que o coração do antigo rei e pai de Maria se alegrasse era, ao chegar em casa com seu elmo entreaberto e sua espada suja de sangue, receber o abraço, o sorriso e o amor de Maria.
Mas a princesa também sofria em seu interior e seu coração se amargurava com a insensibilidade de sua mãe rainha absolutista. Maria se tornara uma democrata igualmente ao pai.
E ao fazer vinte e um anos Maria pôde finalmente reivindicar o trono. O fez de uma forma tão sensata e feliz. Que ao dia seguinte renunciou ao reino. Estabeleceu eleições onde todos votaram, trouxe seu pai a seu lado e foi feliz. Realizando seu próprio sonho, o de seu pai e acalmando o coração de sua mãe, sempre e também muito amada por ela.
As guerras acabaram, e a vida tornou-se mais justa para o reino.
E todos foram felizes para sempre!



... GATO LARANJA ...
10/03/2008

Um comentário:

Samantha Steil. disse...

miaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau.