Crônica sobre Sentimentos Novos – parte I (Paixão, Amor, Carinho e Solidão)

Ando sentindo coisas que não senti nunca antes. Numa vida marcada por tanta lágrima, tanto sentimento bom desperdiçado, por vezes em que morri de amor por coisas e pessoas que não valiam a pena, por vezes em que me fiz um, somando com pessoas que só queriam divisão, por momentos em que, uma dor na alma causada por pecados da carne era a única coisa que saciava meu vício, que me dava auxilio para sofrer mais e sem dor. Se eu enumerar todos os males que o amor e a paixão fizeram profundamente em mim até hoje, perco a atenção que estou dando a que vou escrever agora, pois tentei explicar um pouco a dor para entender melhor a felicidade. Só que, eu digo antes que você me confunda: de felicidade eu não entendo, nunca fui feliz em minha vida.
Vou começar por um sonho, aquele em que a menina sempre voava na hora em que eu chegava perto dela para dar um beijo que esperei muito para dar. Falo desse assunto que antes escrevi, para dizer que ela reapareceu em minha vida de uma forma totalmente inesperada, pouco casual e simplesmente mágica. Desde poucos dias minha vida começou a mudar muito. Eu havia mudado de vida e estou completamente diferente do que eu era quando a vi pela última vez, antes da volta dela para o mesmo ar que respiro. Pensava que nunca mais a veria, ou se a visse, seria vê-la acompanhada por outro cara ou aquele mesmo idiota que com suas mentiras fez com que ela se afastasse de mim. Mas eu a encontrei agora sozinha e querendo estar comigo, de uma forma diferente de antes, leve e calma. E aí tudo virou de ponta cabeça. A começar pelas minhas certezas sobre amor, paixão, carinho e solidão.
Solidão: eu me preparava para ficar sozinho por muito tempo, havia decidido e estava em entendimento para isso, iria para um mosteiro, e ainda, estava muito feliz com essa decisão espiritual que tomei. Mas a volta dessa menina em minha vida fez com que eu não só repensasse esta decisão, mais ainda, que meu coração fechado se abrisse para ela entrar e nunca mais sair, sem pressa, para que ela nunca mais esteja só e abandonada como a vi agora (meu coração quebrou ao vê-la assim) e que eu nunca mais me sinta só nesta vida. Eu no passado já estive acompanhado, mas sempre me senti só. Nunca uma pessoa me completou e aí entra uma das coisas que estou sentindo e que nunca havia experimentado: como por exemplo, estar abraçado com ela e não ter pressa de viver, me sentir feliz de fato vendo seu rosto colado em meu peito e ter a certeza de que posso ser feliz sim nesta vida. Não que seja fácil, mas ao longe vejo um lindo caminho para isso e sinto que este caminho passa por ela em mim, em minha alma.
Carinho: sempre que penso em carinho, sempre me senti abandonado. Repito: sempre foi assim comigo. Todas as mulheres que conheci sempre escondiam o jogo de mim, sempre desviavam seu olhar do meu, me faziam sentir-me sempre feio, pouca coisa e sem graça. Mas ela não, ela olha dentro de meus olhos, ela me olha com desejo, sorri e diz com este mesmo olhar, sem uma só palavra, que me deseja, que me quer, que quer que eu a faça feliz. Nesta hora eu sempre retribuo seu olhar (coisa que não faria de tão marcado que fui por isso), e ela me retorna sorrindo, com um sorriso tão lindo, tão intenso e tão verdadeiro que minha vida se transforma com a beleza de uma sensação de carinho, que vem do coração dela para o meu e retorna ao céu como uma oração de amor sem fim, minha pele se arrepia, meu coração bate forte e pela primeira vez entendi o que é carinho de uma mulher para um homem. Entendi o que é poder ser feliz tendo entregado meu coração para alguém, mesmo com medo de se ferir, mas feliz.
Paixão: isto é coisa que sempre tive por ela, há muitos anos a conheço e acho-a linda demais, sempre parei para vê-la chegar ou sair de onde estava. Não acredito em amor à primeira vista, mas paixão sim. E há um ano e meio atrás eu me apaixonei perdidamente por ela, mesmo ela não me dando um beijo que tanto sonhei ganhar. A vida nos separou e eu sempre pensei nela, cheguei a sonhar muito com seu sorriso, sua boca, seu olhar, mas a única notícia que tinha dela, mesmo antiga, era que ela estava feliz num castelo de mentiras. Era uma dor imensa pensar nela, mas eu não me furtava a isso, sempre sonhei mesmo achando impossível um dia estar com ela. Minhas paixões nunca duraram em meu coração mais que uma semana. E como disse antes, fazem quase dois anos que sou apaixonado por ela. E agora, tendo ela ao meu lado, estando sempre com sua boca junto à minha, vendo seu olhar tão perto do meu, eu entendo que me apaixonei pela pessoa certa, demorei em reconhecer isso para mim mesmo e até para ela ainda não disse isso tudo. Mas meu coração se abriu feito uma rosa e esta rosa tem o nome dela escrito em cada pétala. Estou apaixonado, sempre fui, mesmo neste tempo que passou sem eu vê-la, apaixonado por este sorriso, este olhar e este ser especial que é esta menina.
Amor: aí entra algo que nunca tive por ninguém, já me forcei muito a amar as pessoas e me esforcei muito para isso também. Nunca consegui e no fundo isso foi bom, pois como disse antes, nunca fui alvo de zelo e carinho por ninguém que disse ter me amado. Não posso dizer que estou amando esta menina doce e linda, mas que seria fácil dizer isso, seria sim. É que amor sempre foi coisa difícil para mim, eu sempre me fechei e nunca vi em horizonte algum, nos relacionamentos que tive, a chance de isto acontecer comigo. Pode ser pela minha mudança de vida e pela pessoa linda que ela é, mas pela primeira vez sinto que fui escolhido por Deus para trilhar sem medo esta estrada longa, demorada e dura que leva ao amor de verdade. Mesmo sabendo que a paciência e a calma serão o principal alimento desta jornada. Mesmo sabendo que o que realmente vale a pena é difícil e demora a ser conquistado. Mesmo assim eu vou...
Ela está tão perto de mim, tão dentro de mim nestes dias mágicos que estou vivendo ao seu lado, que apenas vivo, que apenas sonho acordado olhando para ela no dia-a-dia e dentro do meu abraço. Eu respiro um ar tão novo, respiro uma vida tão nova e contemplo uma mulher tão linda perto de mim que pode parecer surreal, mas eu sempre soube que um dia ela seria minha, mesmo quando estava longe, sempre soube querê-la e desejá-la ao meu lado, todos os dias, sempre soube desejá-la e eis ela aqui ao meu lado, trazendo coisas novas em minha vida e a perspectiva de uma felicidade que nunca tive. Mesmo longe no tempo passado, sempre estive perto em desejos e pensamentos que iam ao encontro dela. O cotidiano vem aí... Estarei longe ou perto desta vez?



Gato Laranja (o homem dentro do gato) – 20/11/2009

Livro para viver e escrever ao mesmo tempo... (Um Livro Vivo - Um Sonho)

Por um momento voltei para uma cena de um cara debruçado na janela de um carro voador e um beijo que não aconteceu...
A cena é assim...
O cara está dormindo e começa a sonhar, ele sonha com esta cena do carro e do beijo que não existiu... acorda na hora em que o carro vira a esquina da casa dele... e vai tomar água...volta pra cama e sonha de novo... a mesma cena, o mesmo carro, a mesma menina... só que na hora que ela liga o carro algo dentro dele diz que ele já viu isso antes e ele se antecipa ao destino que ele já conhece... abre a porta do carro... tira ela de dentro e dá um beijo de uns treze minutos nela... quando acaba o beijo ele olha bem dentro dos olhos dela... ela retribui o olhar... e neste momento ele acorda e vai pra rua... é noite... ele olha pro céu e pergunta pra lua onda ela está... a lua apenas sorri e diz: "dentro de você, longe daqui".
Ele foge da cidade... sobe as montanhas... atravessa o deserto e chega num castelo encantado que ainda por cima traz toda a infância dele de volta em pensamentos e a encontra dormindo e sonhando... ele chega bem perto da cama dela e dá um beijo nela de verdade... neste momento ela acorda do sonho e confunde a realidade com o sonho e jura pra si mesma que está ainda dentro daquele carro voador enganando o tempo e o destino...
Olhando para dentro do olhar dele ela vê que é de verdade... não é sonho e o passado ficou longe... ela sorri... o sorriso dela é lindo!
Eles conversam sobre a lua, poesia, música quando vem um gatinho laranja miando e ronronando com alguma coisa na boca que eles pegam... é um bilhete em que está escrito:
ATÉ QUE ENFIM!

Vez ou outra eu penso nela... Mas nunca deixei de sonhar...

Sabe-se que um gato tem coração igual a qualquer ser humano, não digo o coração no peito e sim na alma. Miau.
Poderia eu nesta crônica contar uma história sobre muita coisa que este gato aqui viveu depois de ter morrido e ressuscitado num período que dava, sem dúvida nenhuma, pra eu ter ganhado minhas sete vidas de volta. Mas não é bem assim. Não vou discorrer sobre o paraíso em que na morte do corpo minha alma foi morar, terei muito tempo para isso. Poderia também falar de coisas que eu vi no céu, sentimentos e sensações que de tão reais pareciam que eu estava sonhando acordado. (mas eu não estava dormindo mais do que o sono eterno!). Minha cabecinha de felino ainda, mesmo de volta à Terra, ferve com tanta emoção vivida em minha morte. No entanto vou falar de um anjo, ou melhor, uma santa.
No céu em que eu voava vi muita gente, muito anjo bom (e caído também vi muitos), aprendi a entender que amor não é coisa de sentimento e sim de ação. Com isso cheguei a acreditar que a poesia havia acabado no mundo. Vou deixar a outra hora escrever sobre tudo em poucas doses...
Voltarei à santa, àquela que eu falava antes...
Naquele céu azul de vales e montanhas lindas, depois de voar muito tempo e muito alto, resolvi descer na terra do paraíso, onde existem muitas pessoas e seres de Deus convivendo em harmonia perfeita. Desci para recuperar a força de minhas novas e lindas asas brancas. Sim! Eu tinha asas iguais de anjo no céu, eu voava! E nesta descida conheci uma menina de olhos bem intensos e sorriso tão doce que me perdia olhando para ela, mas naquela hora eu não podia me dar ao luxo de me encantar por ninguém e muito menos encontrar algo que meu coração fechado a sentimentos não estava buscando. Eu precisava mesmo era encontrar forças para voar novamente e percebi que nesta menina estava o começo de algo grande que buscava em mim, em meu dolorido e machucado coração.
Começamos a conversar profundamente sobre a vida, sobre o passado antes de minha morte na Terra. Eu falava de mim e ela um pouco dela mesma. Não conseguia entender porque a voz dela me encantava, não conseguia entender porque eu estava falando tanto de minha vida naquele momento com ela. E ela me ouvia, me entendia. Na real, foi a primeira vez que no céu eu senti meus bigodes de gato vira-lata arrepiarem, dava vontade de ronronar.
Ele falava diferente das pessoas daquele lado do céu que tive a impressão de que ela era estrangeira. Eu precisava voar novamente, mas não conseguia sair do lado dela. E isso me deixou muito intrigado e desconfiado dela (que ela era?) e de mim mesmo.
Comecei a entender que ela não era um anjo e nem um ser humano comum, eu nunca na Terra havia visto alguém como ela falar sobre tudo e com o coração tão sereno e aberto.
Aí este gatinho aqui viajou em si mesmo, felino bobo que se rende fácil a passadas de mão na cabeça. Foi muito bom. Pela primeira vez, em toda a minha existência, fui realmente sincero. E ela sorria leve, linda e tímida.
Bom para parar de enrolar, vou dizer uma coisa curta: me encantei como nunca na vida. Nenhuma fada, mesmo tentando, conseguiu me encantar como ela o fez sem querer. E este “sem querer” me deixou triste antes de voar, pois qualquer coisa que eu dissesse poderia parecer carência minha e não era.
Ela me contou que durante muito tempo se escondeu de si mesma, camuflava aquele maravilhoso olhar e evitava aquele mágico sorriso por uma razão muito simples que ataca todos os seres humanos, gatos e outros serem que amam e sentem dor: ela não gostava muito de ser como ela o era.
Aí tocou no ponto forte em que este gato aqui entende. Pois não gostar de si mesmo foi o que fez com que numa noite fria de agosto eu fosse atropelado por um caminhão e morresse gritando naquele asfalto gelado. Ela falava e eu lembrava de meus últimos suspiros desconsolados no chão, abandonado e com medo. Revivi minha morte naquele sorriso lindo. Mas não foi de uma forma dolorida e sim contemplativa de mim mesmo através das idéias dela. Me fazia bem saber que eu nunca estive abandonado no mundo como pensava antes. Me fazia bem estar com ela. Por momentos deixei de pensar no que tinha ido buscar lá e só ficava olhando seu sorriso, criando poesias em minha mente com aquele olhar e dilatando minha alma ao som de sua voz.
Vieram em minha cabeça felina algumas perguntas: será que ela também tinha morrido atropelada? Será que ela se sentiu abandonada um dia?
Foi aí que ela me mostrou quem ela era, mesmo sem querer que eu percebesse. Ela não havia morrido e sim foi levada aos céus pelos anjos. Nesta viagem, ela aprendeu a se gostar, deixou de esconder seu olhar negro e profundo e se encontrou com Nossa Senhora no paraíso.
Meu coração disparou e vi que estava eu, simples gatinho de telhado, na presença de uma santa. Ela negava que isso fosse verdade justificando que nunca no mundo poderia haver uma santa ainda em vida, mesmo estando na terra do paraíso. Disso eu já tinha ouvido falar, só que não havia duvidas de que estava em minha frente e sorrindo para mim uma santa de verdade. E ainda assim eu não queria acreditar no que estava compreendendo ali naquela face resplandecente de um sorriso simples e cativante. Logo eu, que já estive com fadas, anjos, reis e rainhas. Nunca havia conhecido uma santa pessoalmente. Meu coração gelou, tentei me afastar, mas a santidade dela me atraía muito e então resolvi voar para bem longe. Já era hora de eu ir embora e minhas asas estavam fortes novamente.
Soube depois que ela voou para um lugar bem longe lá no sul... Aprendi a rezar só para rezar por ela e, se eu mentir aqui digo que vez ou outra eu penso nela... Porque se eu falar a verdade nestas últimas linhas vou parecer um siamês encantado e apaixonado por alguém inatingível... Mas nunca deixei de sonhar...


GATO LARANJA
03-11-2009